domingo, 23 de maio de 2010

Martírio

O olhar de meu amor vinha me cegar.
No espelho da sala de estar eram nítidas as rugas que conduziam meus dias. Incansáveis.
Todo martírio se revelava em minhas expressões de falta e de ausência. As lágrimas diárias que insistiam em cair não me deixavam ver a única forma de restauração que, pudera, ousadia louca em momentos, ampliar minhas necessidades. Ainda que fantasiando contextos obscuros pudesse eu reformar meu espírito como se fosse uma construção qualquer.


Tatiana Rangel

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pileques da dor

Na mesa de um bar em um cruzamento qualquer tudo começava. Um gole de cerveja, um trago no cigarro e a prosa que punia levando a um destino insaciável. Na amizade o repouso depois de tantos outros pileques. A calmaria do tabaco levava-nos junto à fumaça. E a prosa continuava com dores e aflição. A pessoa amada não passava, ou passava em pensamentos e recordações. O corpo ausente, dava-nos a necessidade de saborear a cachaça de barril do bar daquela esquina. Mal sentiamos os pés tocando o chão. Tampouco o arrepio que no início conduzia a prosa.
De repente tudo se manifestava. O toque das mãos, o calor do cansaço e a troca de tormentos que se transformava em amor. Mas que amor?
Duas almas que há pouco vagavam em debulhações de incertezas se entregavam sem culpa e cheias de conflitos?
Esse sentimento que ao menos sabemos definir foi manipulador ao nos aproximar.
Voltava entre nós, nos momentos de prazer, a sensação de enganar o espírito.
E foi ainda naquela noite que nossos corpos se unificaram. Mas, foi também naquela noite que a boa e velha amizade se concretizava.


Tatiana Rangel e Mário Sérgio

Recomeço

Quando o coração se inquieta pela falta da pessoa amada, a alma se eleva a procura do reencontro. Neste momento renasce o ser e, neste momento, a vida recomeça.

Tatiana Rangel

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Os mistérios da alma

É de forma única e moldada a dedos com artimanhas e delicadeza...

É do tempo, da conquista e da cumplicidade nascida e renascida dia após dia...

É da vida, dos céus e proveniente de belezas imagináveis.

Vem de dentro, da alma, da ternura de um olhar constatado em segundos, do toque das mãos e do cheiro que o vento sempre se encarrega em trazer pra mim...

Veio do sorriso um dia ofertado e sem restrições...

Veio da carência das palavras e da carência de vivência. Entretanto, veio à mim e por isso não devo me calar. Veio sem fontes seguras e sem desejos, mas fomos conquistando até atingir o êxito.


É de forma pura e veio assim, do nada, quando ao menos sabíamos o que deveras era sentido.


Tatiana Rangel

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os frutos do amor

Pouco sei dizer do tempo. O que conduz, o que permite a respiração e o mesmo que sufoca.
O céu em sua infinita beleza me leva sem destino.
A chuva que ameaça de longe derramar gotas de água em mim me leva a crer que abençoaria o meu amor.
Eu estou aqui com ele e as folhas passam por nós.
As árvores se preparam para os frutos em um mês de outono.
Queria parar e me perder entre as árvores e os bichos que nelas moram.
Queria te ter ali ou aqui, mas o momento é este.
A chuva agora cai, e minhas pernas trêmulas desejam seu corpo.
Pouco sei de mim...
Pouco sei do tempo... Mas sei de nós!
Sei que com você me sinto leve, me sinto amada, me sinto melhor.
Com você tudo é belo e eu sempre me perco no teu olhar...
O tempo? Desisto de pensar e entender e ainda pouco sei, entretanto, saber de nós já me basta.


Tatiana Rangel